Desculpa.
Dessa vez não vou poder lutar, não vou gritar , nem discutir.
Vou ser covarde, vou ver pela televisão, pela internet.
Fossem os tempos da escola, em que pulsava o desejo revolucionário de mudança e melhoria do país , provavelmente vcs me veriam por aí em meio a protestos, passeatas, fazendo parte da divulgação e dando literalmente a cara a tapa por um país mais justo.
Já briguei, já chorei pela pátria,
Hoje, me acovardo.
A minha luta é individual,
O conflito é interno.
Hoje tenho medo do conflito, da violência. Recebi meu salário, pago minhas contas e vou vivendo até que confortavelmente. Entre um gole e outro.
Talvez influenciada pela visão protecionista elitista dos meus pais, pela vida burguesa da minha família e amigos , não vou mais à luta e preso pela minha integridade física e moral . Não estou disposta a me envolver em riscos, não quero me machucar, não quero ser estatística, e por isso sei que me acovardo.
Hoje vcs estão com um soldado a menos. Minhas sinceras desculpas.
Não acredito mais na mudança, e estou acomodada na minha vidinha classe média que não chega a ser medíocre, ainda.
Meu conflito interno agora tem uma relevância maior... cinza, essa nuvem que me envolve, também é muro e escudo. Sinto que já sou um caracol ou uma tartaruga.
Me fechei aos meus problemas, as minhas questões, desejos, felicidades e infelicidades. Tenho que cuidar de mim e por enquanto, não do país. Um soldado luta melhor quando não está ferido.
Fechei a casa e me tranquei lá dentro. Por enquanto, que se exploda o Brasil.